Desenvolvimento urbano baseado em conhecimento e ecossistemas de inovacao urbanos: uma analise em quatro cidades brasileiras. - Vol. 44 Núm. 131, Enero 2018 - EURE-Revista Latinoamericana de Estudios Urbanos Regionales - Libros y Revistas - VLEX 716716389

Desenvolvimento urbano baseado em conhecimento e ecossistemas de inovacao urbanos: uma analise em quatro cidades brasileiras.

AutorSpinosa, Luiz-Marcio
CargoEnsayo

Introducao

Nas ultimas decadas os planejadores urbanos tem se confrontado com o desafio de conciliar a evolucao urbana com o surgimento da economia do conhecimento (Clarke, 2001; Drucker, 2011; Powel & Snellman, 2004; Smith, 2000), cuja origem e atribuida as chamadas sociedade da informacao ou sociedade em redes (Castells, 1996, 1997, 1998). A economia do conhecimento advoga a necessidade de geracao, difusao e uso do conhecimento nas economias modernas; um fenomeno global que sustenta que conhecimento transformou-se na forca motriz para o crescimento economico e o desenvolvimento social, em grande parte alicercados na promocao de inovacoes. Conhecimento e inovacao estao presentes na agenda dos planos de desenvolvimento dos paises, desempenhando papel relevante na geracao de riqueza e empregos qualificados (World Bank, 2010). Algumas regioes tem obtido melhores resultados atraves do reforco e ampliacao de politicas cientificas, tecnologicas e de inovacao que realcam a mobilizacao dos processos de aquisicao e uso de conhecimentos e de capacitacoes inovadoras como parte integrante e fundamental de suas estrategias de desenvolvimento (Organisation for Economic Co-operation and Development [OECD], 2010).

Assim como varios outros paises, o Brasil busca acompanhar este movimento. Politicas publicas tem emergido de forma a conduzir os esforcos nacionais (De Negri, Kubota & Baessa, 2008; Pacheco & Almeida, 2013), uma vez que ha um amplo consenso junto a empresarios, governantes e a comunidade cientifica de que os processos de inovacao sao diretamente responsaveis por saltos na competitividade e na qualidade do sistema produtivo (Arbix, 2007). De forma nem sempre explicita estas politicas tem promovido o desenvolvimento de Ecossistemas de Inovacao (EI).

Os EI constituem lugares privilegiados para a conducao da dinamica de inovacao e tornam-se importantes ativos de competitividade entre cidades, regioes e mesmo paises. No Brasil tem se destacado a formacao de EI a partir de parques tecnologicos inseridos ou proximos ao meio urbano. Segundo pesquisa realizada em 2013 pelo Ministerio da Ciencia, Tecnologia e Inovacao existem 94 iniciativas de parques tecnologicos conhecidas, sendo que 28 estao em processo de implantacao, 28 estao em operacao e 38 estao em fase de projeto, com 939 empresas instaladas gerando 32.237 postos de trabalho, destes, 17.630 sao de nivel superior (MCTI, 2014). Eles estimulam atividades economicas de alto valor agregado, a geracao de empregos qualificados (caracteristica das atividades de base tecnologica) e atracao e desenvolvimento de novas atividades economicas (Damiao, Catharino & Zouain, 2006).

A existencia dos EI implica na melhoria da competitividade nao so do sistema industrial e das empresas, mas evidencia tambem o papel das regioes urbanas. De fato, os EI consolidam-se em areas urbanas "ricamente informadas" com infraestrutura tecnologica, social, economica, cultural e cientifica (Duarte, 2005). As cidades sao vistas como centros de conhecimento, como loci de culturas que produzem e valorizam conhecimento (Knight, 2008, Leite & Awad, 2012; May & Perry, 2011a, 2011b; Yigitcanlar, Velibeyoglu & Baum, 2008). Yigitcanlar (2011) acrescenta que as cidades transformam-se dentro de um contexto de competicao global para atrair e reter investimentos e talentos com o intuito de fomentar o desenvolvimento em seus territorios.

De acordo com Hearn (2008) ha quatro caracteristicas da economia do conhecimento na vida das cidades: i) o crescimento economico baseado em continuas ondas de inovacao, fazendo com que as cidades precisem acomodar ciclos curtos e rapidos de inovacao; ii) os novos produtos e servicos estao fortemente pela dinamica de redes que envolvem integracao de funcionalidades, pessoas e empresas, fazendo com que o planejamento urbano necessite dar suporte a esta dinamica de forma escalonavel e mais aberta possivel; iii) o envolvimento de conhecimento multidisciplinar para que a inovacao aconteca, impondo aos planejadores a necessidade de meios de convergencia de diferentes dominios de conhecimento e, finalmente, iv) a nova identidade cultural das cidades fortemente influenciada pela chamada industria criativa.

O cenario assim definido, tendo por um lado uma demanda de desenvolvimento dos EI e, por outro lado, a necessidade de integracao destes ao meio urbano de forma adequada e sustentavel, motiva o presente trabalho. A praxis tem demonstrado que esforcos neste sentido tem tido desdobramentos favoraveis a criacao e inducao dos ei, relevando particular interesse dos formuladores de politicas publicas, das empresas e da academia (Spinosa & Krama, 2014).

Para apreender parte da dinamica urbana este trabalho assume o conceito de Desenvolvimento Urbano Baseado em Conhecimento (DUBC), o qual propoe abordagens de planejamento de modo a propiciar condicoes urbanas que estimulem o surgimento e crescimento de empresas de inovacao de base tecnologica, estimulando igualmente a diversidade social e principios de sustentabilidade ambiental (Knight, 1995; Yigitcanlar, 2010, 2011). Assim, uma analise detalhada da relacao entre o DUBC e os EI e aqui apresentada, tendo como base um modelo conceitual especificamente desenvolvido. A titulo de complementacao empirica, o modelo foi aplicado para se obter uma analise em quatro cidades detentoras de premiados EI brasileiros.

Modelo conceituai e aplicacao

O modelo teve sua construcao fundamentada na triangulacao de metodos (Minayo, Assis & Souza 2005) que por sua vez se apoiou em abordagens tradicionais de pesquisa social (Gil,1999; Malhorta & Taylor, 2008). Para o entendimento do DUBC a pesquisa bibliografica e documental privilegiou uma visao aplicada e focou-se em estrategias e indicadores urbanos que permitem medir a operacionalizacao do DUBC. Os EI tambem foram abordados de forma aplicada por meio de estudos descritivos de ecossistemas no mundo. Para os EI o foco foi o desempenho verificado a partir de indicadores de resultados e impactos esperados. Distinguem-se resultados como sendo avancos ou retrocessos diretamente mensuraveis, de impactos vistos como consequencias nao mensuraveis e observaveis a partir dos resultados.

Determinantes oriundos das duas areas foram organizados em um modelo inicial que racionalizou as relacoes por meio de um processo de deducao tradicional (figura 1). O DUBC produziu as variaveis independentes e os EI as variaveis dependentes do modelo. O foco esta em relacoes causa-efeito, sendo as causas as perspectivas estrategias do DUBC e os efeitos o desempenho dos EI. Ao todo, 85 relacoes sao analisadas. Duas delimitacoes sao apresentadas pelo modelo: i) nao sao consideradas relacoes contrarias dos EI para o DUBC (situacoes onde os resultados e impactos influenciam uma ou varias perspectivas) e ii) nao ha consideracao de relacoes desfavoraveis. Esta opcao permite focar prioritariamente na identificacao de recomendacoes para os formuladores de politicas publicas e planejadores urbanos envolvidos com o DUBC.

Um instrumento para coleta da percepcao de gestores de EI foi desenvolvido por meio do programa computacional QualtricsR e aplicado para verificar a coerencia do modelo inicial. Ajustes e melhorias foram produzidas e geraram a versao final do modelo e do instrumento. Visitas e entrevistas foram realizadas em quatro cidades brasileiras que abrigam EI vencedores do "Premio Nacional de Empreendedorismo Inovador" concedido anualmente pela Associacao Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores no Brasil (tabela 1). Os criterios de premiacao dos ei sao fundamentados na visao de futuro, responsabilidade social e etica, decisoes baseadas em fatos, valorizacao das pessoas, abordagem por processos, foco nos resultados, inovacao, agilidade, aprendizado organizacional e visao sistemica (Associacao Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores [Anprotec], 2008). As entrevistas buscaram obter a percepcao dos principais atores submetidos as estrategias de DUBC e, ao mesmo tempo, envolvidos com a gestao dos EI. Uma percepcao de qualidade sobre essa relacao e privilegio de pessoas com conhecimento aprofundado em gestao da inovacao. As entrevistas ficaram desta forma restritas aos diretores de inovacao e/ou competitividade de cada ei, totalizando 8 entrevistas diretas.

Analises

Do uso do modelo emergiram cinco principais constatacoes que caracterizam o relacionamento entre o DUBC e os ei.

Tanto o DUBC quanto os EI podem ser considerados arranjos ocorridos em resposta a necessidade de insercao de regioes na economia do conhecimento. Declaracoes definidoras de ambos permitem identificar varias similaridades.

O DUBC e definido como uma nova estrategia de desenvolvimento territorial para a geracao de riqueza tendo como elemento central a promocao da capacidade de atrair, gerar reter e fomentar a criatividade, o conhecimento e a inovacao (Yigitcanlar, 2011). O conceito de DUBC envolve uma missao estrategica para incentivar e nutrir a producao local da ciencia, inovacao e criatividade no contexto de uma economia do conhecimento em expansao e na sociedade. Uma cidade que prioriza o DUBC pode ser vista como uma cidade integrada, que combina fisicamente e institucionalmente as funcoes de um parque de ciencia com funcoes civicas e residenciais, oferecendo um paradigma eficaz para as cidades sustentaveis do futuro (Knight, 2008; Yigitcanlar, Velibeyoglu & Baum, 2008).

Ja o termo ecossistema de inovacao ganhou maior uso em publicacoes recentes e tem integrado discussoes sobre "regioes de inovacao", "millieu innovateur" (ambientes inovadores), "clusters" conforme o uso estabelecido por Porter na decada de 1990 (Porter, 1990; Rosenfeld, 1996) e "clusters de inovacao globais" (Engel, 2014). Um "ecossistema de inovacao", ou "EI", pode ser definido como uma iniciativa, espontanea ou induzida, abrangente e...

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