Planejamento sob a perspectiva conceituai e das racionalidades. - Vol. 47 Núm. 140, Enero 2021 - EURE-Revista Latinoamericana de Estudios Urbanos Regionales - Libros y Revistas - VLEX 863515221

Planejamento sob a perspectiva conceituai e das racionalidades.

AutorMagalhaes, Rafael
CargoTexto en portugu

Elementos para desvendar a essencia do planejamento

A grandeza da tarefa de conceituar, em diferentes perspectivas, o planejamento possibilita, igualmente, a oportunidade de ampliar discussoes tendo em vista o pensamento da filosofia pre-socratica com os preceitos do movimento em Heraclito de Efeso e o conceito de desejo na Etica de Spinoza (seculo XVII).

Apesar de se tratar diretamente de preceitos filosoficos, a intencao deste texto tenta contribuir na construcao de uma ontologia do planejamento diferente dos muitos que o diminuem como um instrumento politico ou de gestao. Quando se pensa no "amanha", aprofunda-se o conhecimento da realidade e de todo o percurso historico para se chegar a ele. Esse amanha nao e destituido de ontem nem do hoje--pode constituir uma tendencia ou algo de inesperado acontecer, pois "a forca pela qual o homem persevera no existir e limitada e e superada, infinitamente, pela potencia das causas exteriores" (Spinoza, 2016, p. 273). A capacidade de perseverar do homem, aqui entendida como a realidade, e infinitamente modificada e superada em virtude da potencia empreendida a partir de um desejo (contingente, provavel e possivel), ou seja, uma acao interna ligada ao corpo e a mente conectada com valores, regras, normas ou com a natureza em si, que, neste caso, representam causas exteriores ao homem, mas que, coercitivamente, atuam sobre os desejos. O amanha e resultante da potencia de agir forjada na realidade do hoje e em efeito do ontem, causa primeira do tempo.

Portanto, planejamento identifica, qualifica, quantifica e hierarquiza as acoes que serao realizadas ao longo do tempo futuro, que visam atender o desejo humano. As acoes e o proprio desejo constituem o movimento fundamental de perseveracao da existencia, tanto na passividade quanto na atividade.

Para compreender esse conceito, faz-se necessario recorrer a Etica de Spinoza. O desejo, sendo uma das definicoes de afeto, e a propria essencia do ser humano, enquanto essa e concebida como determinada, em virtude de uma dada afeccao qualquer de si propria, a agir de alguma maneira. Para Spinoza, o esforco, como movimento interno ao corpo, e um impulso voluntario de aproximacao ou afastamento do objeto externo que o suscita. Chaui (2011, p. 46) enfatiza essa importancia como "a essencia atual de um ente singular. O desejo (...) e a essencia atual de um homem. O desejo e, pois, conatus [esforco], movimento infinitesimal de autoconservacao na existencia. (...). Desejo e movimento".

Por falar em movimento, Heraclito de Efeso (seculo V A.C.) buscou descobrir a origem das coisas e o processo de seu vir-a-ser. E reconhecido pela tese de que tudo flui, nada permanece, a mudanca das coisas e constante e eterna. "Tu nao podes descer duas vezes no mesmo rio, porque novas aguas correm sempre sobre ti" (fragmento 12). Por outro lado, quando Heraclito aborda o mundo dialetico, afirma que "conjuncoes o todo e o nao todo, o convergente e o divergente, o consoante e o dissoante, e de todas as coisas um e de um todas as coisas" (fragmento 10) (Hegel, 1973, p. 97). A profundidade e a heraclitica do ser enquanto devir, segundo Bocayuva (2010, p. 410), vem da compreensao do principio como consistencia-nenhuma, ou seja, "a compreensao de que o logos, como unidade instauradora, e articulacao de convergencia e divergencia: guerra originaria".

Dois elementos significativos podem iluminar o conceito de planejamento desenvolvido neste debate: i) o que vai ser nao sera igual ao que foi ou ao que esta sendo, ou seja, o pressuposto de mudanca como razao fundamental do movimento; e ii) somente o poder conduz as forcas necessarias ao que sera, neste caso entendido como autoridade mutavel diante da convergencia ou da divergencia, ou seja, a nocao de unidade marca a mudanca no movimento.

A constante mudanca gera incerteza! O futuro e incerto! Cliches futuristicos envolvem o imaginario do amanha. Porem, essas sentencas reforcam a potencia do movimento na busca do desejo de desvendar o devir--o que devera acontecer--; o porvir--o que podera acontecer; ou o vir a ser--o que podera acontecer caso haja poder de mudanca em favor de si. Contribui, neste contexto, com a ideia defendida por Zigmunt Bauman sobre a fluidez do tempo liquido como uma metafora para expressar o dinamismo do processo de transicao entre a modernidade e a fase atual.

Para Bauman (2007), a "vontade de liberdade" e a base da modernidade liquida, que se opoe a seguranca construida em torno de uma vida social estavel. O desaparecimento ou enfraquecimento das estruturas sociais nas quais eles poderiam ser tracados com antecedencia leva a um desmembramento da historia politica e das vidas individuais em uma serie de projetos e episodios de curto prazo, que sao, em principio, infinitos e nao combinam com os tipos de sequencias aos quais conceitos como desenvolvimento, maturacao ou progresso poderiam ser aplicados. Outro elemento refere-se a humanidade em movimento, que, em virtude das consequencias da globalizacao e do enfraquecimento da soberania do Estado-Nacao, floresce e produz um numero de vitimas que cresce rapido demais para o planejamento. Por outro lado, a esperanca depositada na utopia e absolutamente necessaria para o progresso, para um futuro melhor. A utopia nasce de duas condicoes: o mundo nao esta funcionando de maneira adequada, sendo improvavel modifica-lo sem uma revisao completa; e existe a crenca na capacidade humana em prover essas mudancas.

Segundo Chaui (2011, p. 122), o possivel, como o contingente e o acaso, pode ou nao acontecer, e e o que acontece se houver um agente como o poder para faze-lo acontecer. "Assim, o possivel e o que esta em poder de um agente fazer acontecer ou nao". A conexao entre Spinoza...

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