A producao cientifica sobre gestao urbana: analise bibliometrica de 2010 a 2017. - Vol. 45 Núm. 136, Septiembre 2019 - EURE-Revista Latinoamericana de Estudios Urbanos Regionales - Libros y Revistas - VLEX 810551337

A producao cientifica sobre gestao urbana: analise bibliometrica de 2010 a 2017.

AutorSilva, Marcus-Vinicius Goncalves da
CargoTRIBUNA

RESUMO | A complexidade conceituai e epistemologica no campo de estudo da gestao urbana e sua caracteristica dinamica de adaptacao a cada contexto, tem tornado cada vez mais dificil tanto a sua mensuracao quanto o seu desempenho. Diante desse fato, utilizando-se da metodologia de carater bibliometrico, esse trabalho tem o objetivo de mapear o terreno da producao intelectual sobre a gestao urbana e de se conhecer a producao precedente. Como resultado, foi possivel identificar que a producao cientifica na area de gestao urbana se constitui um campo de gradativo crescimento nos ultimos anos e, que os periodicos melhores avaliados e os autores mais citados, respectivamente, podem auxiliar a fundamentacao e sustentacao teorica de pesquisas futuras, a fim de incrementar o relevante campo do conhecimento da gestao urbana.

PALAVRAS CHAVE | gestao urbana, teoria urbana, sociedade do conhecimento.

ABSTRACT | The conceptual and epistemological complexity in the field of study of urban management and its dynamic characteristic of adaptation to each context, has made it increasingly difficult both to measure and to perform. Given this fact, using the methodology ofbibliometric character, this work has the objective of mapping the terrain of intellectual production on urban management and to know the previous production. As a result, it was possible to identify that scientific production in the area of urban management is a field of gradual growth in the last years and, that the best evaluated and most cited journals and authors, respectively, can support the theoretical foundation and support of future research, in order to increase the relevant field ofknowledge of urban management.

KEYWORDS | urban management, urban theory, knowledge society.

Introducao

As raizes conceituais da gestao urbana partem de tentativas de reformas de governos locais e do gerencialismo urbano na decada de 1970. Desde meados da decada de 1980, essa area de conhecimento assumiu uma abordagem mais institucional defendida pelas principais agencias internacionais de fomento ao desenvolvimento (Davey, Batley, Devas, Norris & Pasteur, 1996; Jenkins, 2000). Isso ocorria em meio a mudancas no quadro politico-economico da sociedade global, que reforcavam a importancia da gestao urbana em um contexto de reestruturacao dos modos de producao. Figurava-se, portanto, um momento historico marcado por preocupacoes com as crises do Estado decorrentes da ascensao do neoliberalismo, tendo como reflexos uma onda de descentralizacao e do acirramento competitividade entre as cidades (Werna, 1995).

Era um contexto com tendencias de transferencia de competencias decisorias do nivel nacional para o local, para tornar as cidades mais autonomas e, assim, capazes de conceberem e implementarem suas proprias estrategias de desenvolvimento. As cidades, nessa linha, passariam a se tornar "motores de crescimento", com a atracao de investidores e mao de obra altamente especializada (Hall, 1993). O desafio, portanto, era compreender a natureza dos problemas urbanos frente a dinamica da mudanca do gerencialismo para o empreendedorismo (Harvey, 1989), pois ate entao, a gestao urbana se limitava ao planejamento dos aspectos fisicos e territoriais da cidade e tinha como finalidade tratar da infraestrutura basica e da viabilizacao de servicos sociais.

Nos limiares do seculo corrente, o campo do conhecimento da gestao urbana ja tinha ampliado o seu escopo para abranger variaveis de ordem social, politica e economica articuladas por diferentes atores publicos, privados e da sociedade civil local. Nessa linha, entraram na agenda da gestao urbana as transformacoes fundamentais para viabilizar novos caminhos para a gestao publica das cidades na, entao emergente, sociedade da informacao (Frey, 2002), o que passou a exigir modelos inovadores, assim como novos instrumentos, recursos tecnologicos, procedimentos e formas de acao para criar condicoes favoraveis de suporte as atividades locais e territoriais de agentes publicos e privados frente a globalizacao.

Era um momento em que o contexto local gerava complexidade crescente nos processos decisorios e ampliava a agenda urbana com temas relevantes, como, por exemplo, a geracao de emprego, o desenvolvimento economico local, a seguranca publica, a poluicao e o meio ambiente. Essas novas demandas revelavam certa incapacidade das instituicoes politicas e administrativas locais tradicionais, normalmente vistas como aparatos de administracao publica, para atuar e gerir com maior independencia e autonomia em relacao a outros atores para tornar as politicas publicas locais mais efetivas (Frey, 2003).

A partir dessa perspectiva, procuramos realizar o mapeamento do campo de producao intelectual sobre a area de gestao urbana no contexto de publicacoes nacionais e internacionais, com foco para a producao brasileira. A investigacao se pautou em uma bibliometria para identificar as tendencias de tal area do conhecimento a partir de autores, instituicoes e periodicos mais relevantes no campo de pesquisas sobre gestao urbana.

De inicio, para dar continuidade a trajetoria desenvolvida ate este ponto, na proxima secao e realizada a contextualizacao teorico-conceitual sobre cidade e gestao urbana para, em seguida, tracarmos o percurso metodologico da pesquisa e, finalmente, apresentarmos os resultados e discussoes que levarao as conclusoes.

Cidade e gestao urbana no contexto global

As teorias e politicas internacionais sobre desenvolvimento urbano vem passando por profundas mudancas ao longo das ultimas decadas, principalmente como reflexos da guinada de interpretacoes sobre questoes urbanas a partir dos anos 1960 (Monte-Mor, 2006). Com escopo na transformacao e funcao das cidades, as teorias sobre desenvolvimento mediado pelo planejamento e gestao assumiram relevancia para compreender as intervencoes do Estado e seus reflexos na sociedade. Entretanto, parte dessas teorias desenvolvidas em paises do centro capitalista tiveram dificuldades para serem apropriadas nas periferias e, em muitos casos, se representaram com "ideias fora do lugar" colocando parte das cidades como "lugares fora das ideias" (Maricato, 2000).

No inicio dos anos 1970, a crise fiscal do Estado se anunciava nas cidades, projetando as bases para a redefinicao do papel do Estado na decada seguinte (Castells, 1989). A cidade da prosperidade, do progresso e do desenvolvimento comecava a ser apropriada como a cidade do capital globalizado (Monte-Mor, 2006). No mundo dos estudos urbanos, criticas sobre a cidade a partir da economia politica comecaram a assumir relevancia, formando uma escola de pensamento sobre questao urbana e regional.

Nesses estudos, David Harvey (1975) e Manuel Castells (1977) assumem o protagonismo nos estudos urbanos e regionais com formulacoes criticas de cunho marxista (Monte-Mor, 2006). Enquanto isso, a producao do espaco urbano e regional no Brasil ocorria com a estruturacao de forcas socioculturais, economicas e politicas entre campo e cidades. As construcoes teoricas, partindo das cidades coloniais ate a realidade das metropoles, passaram a ser redefinidas, adaptadas e recriadas para explicar processos socioespaciais e informar projetos politicos de classes e de grupos de interesse que se articulavam dentro e fora do Estado (Maricato, 2000).

Nesses esforcos iniciais, os conceitos teoricos de gestao urbana tenderam a se manter multifacetados (Hirst, 2000; Rhodes, 2000). Nao obstante, esses esforcos contribuiram para que ocorressem mudancas substanciais tanto na area da politica urbana quanto dos estudos urbanos independentemente da existencia de um conjunto coeso de teorias formadas a partir da transformacao dos tradicionais principios da autoridade estatal.

A gestao urbana passou, com isso, a assimilar novas tendencias sobre uma gestao compartilhada e interinstitucional para abarcar tanto o setor publico quanto o setor produtivo (Frey...

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