Dinamica espacial da hotelaria de luxo na metropole de Sao Paulo: da expansao a crise e o estagio atual. - Vol. 41 Núm. 124, Septiembre 2015 - EURE-Revista Latinoamericana de Estudios Urbanos Regionales - Libros y Revistas - VLEX 636921209

Dinamica espacial da hotelaria de luxo na metropole de Sao Paulo: da expansao a crise e o estagio atual.

AutorCosta da Silva, Carlos
CargoTexto en portugués - Ensayo

Introdução

O objetivo deste artigo é analisar o papel que os empreendimentos hoteleiros desempenharam na história recente de São Paulo, destacando os principais fatores que interferiram nas mudanças no padrão de localização, nos serviços e na gestão imobiliária-administrativa do setor. Nossas análises se baseiam nos empreendimentos hoteleiros considerados de luxo ou de alto padrão ou com classificação 5 estrelas. A pergunta que baliza nossas reflexões está baseada na hipótese de que a hotelaria acompanha o processo de construção de novas áreas de centralidade em São Paulo, participando como um setor que reforça e facilita a concentração de capitais e pessoas a partir da consolidação de uma determinada área como centro de negócios e de turismo. Quais as relações existentes entre a consolidação de São Paulo como destino de negócios e de turismo com o desenvolvimento da hotelaria? De que maneira a hotelaria participa do processo de reprodução do espaço da metrópole, interferindo na produção e consolidação de novas áreas de centralidade? Qual foi a resposta dada pelo setor hoteleiro paulistano tendo em vista as novas configurações socioespaciais do sistema capitalista de produção?

A participação da hotelaria na produção do espaço da metrópole paulista

No século xix podemos afirmar que é com o incremento na circulação de bens, serviços, pessoas e capitais, impulsionados pela produção cafeeira, que permitiu o surgimento dos primeiros hotéis na cidade. O aumento no fluxo de viajantes e visitantes que passavam por São Paulo devido ao início das atividades comerciais advindas da produção cafeeira no interior e seu consequente transporte até o Porto de Santos cruzando a cidade de São Paulo favoreceram o aparecimento dos primeiros meios de hospedagem organizados na cidade. Entre 1880 e 1930, São Paulo passa de uma cidade com aproximadamente 250.000 habitantes para uma metrópole com mais de 2 milhões de pessoas. A riqueza gerada pelos excedentes da produção cafeeira lhe permitiram ampliar a oferta de novos serviços ao mesmo tempo que a demanda cresce exponencialmente, como demonstra Carlos e Pintaudi (1995, p. 23).

Até a década de 1930, em São Paulo, a hotelaria se consolidou com diversas unidades de variados tamanhos e padrões de serviços presentes, basicamente, no centro na cidade e ao redor das estações ferroviárias, além de algumas pensões e hospedarias em bairros industriais ou estritamente residenciais. O hotel que marca esse período é o Grande Hotel Esplanada localizado ao lado do edifício do Teatro Municipal no Vale do Anhangabaú.

Com a expansão efetiva da industrialização na cidade de São Paulo e em sua Região Metropolitana entre 1930 e 1970, a hotelaria paulistana tomou outros contornos. As técnicas da construção civil se especializaram ao ponto que hotel virou sinônimo de edifício com pelo menos seis pavimentos, grande quantidade de janelas, esquadriais, portais, beiradas, sacadas, jardins e retoques especiais no trato do desenho arquitetônico no seu projeto de construção e decoração. O marco deste período em São Paulo foi o Othon Palace Hotel construído na década de 1950, localizado no Viaduto do Chá, ao lado da sede das empresas Matarazzo. Esse hotel revolucionou os padrões de construção até então estabelecidos por ter muitos artigos, móveis e serviços de luxo a disposição de seus hóspedes. Este período de quarenta anos correspondeu à consolidação da cidade de São Paulo como capital industrial do país e motor da economia nacional. Como centro econômico nacional, a cidade desempenhou um papel aglutinador no fluxo de pessoas e bens para seus limites, necessitando expandir seu parque hoteleiro para além dos tradicionais meios de hospedagens localizados na área central em torno dos distritos da Sé e da República.

Ao final da década de 1960, a tendência da expansão dos negócios em São Paulo se consolidou, surgindo a vertente do Rio Tietê em direção ao espigão da Avenida Paulista no interflúvio com o Rio Pinheiros como área primaz para os investimentos em hotéis na cidade de São Paulo. A região do centro histórico (distritos Sé e República) perdeu lugar como referência para as sedes empresariais e negócios privados, para a região da Avenida Paulista. Ainda que o centro histórico ganhasse fluidez ao se inaugurarem as primeiras estações da rede metroviária, o que permaneceu no centro foram os serviços públicos e o comércio popular, migrando, através do eixo formado pelas Avenidas Angélica, Rua Augusta e da Consolação, o comércio das elites, os escritórios e os serviços mais especializados, concentrando-se nos bairros da Bela Vista, Cerqueira César e Jardins.

E importante citar neste período a inauguração do Shopping Center Iguatemi em 1966 no bairro de Pinheiros nas várzeas do rio de mesmo nome. Seus efeitos espaciais contidos na expressão da centralidade urbana começaram a ser vistos ao longo de toda a década de 1970, quando a vertente sudoeste da Rua Augusta e sua continuação através da Rua Colômbia e Avenida Europa, além das Alamedas perpendiculares como a Lorena e a Rua Oscar Freire, começaram a receber lojas elegantes para as elites que residiam nas proximidades, modificando por completo a estrutura do comércio de luxo de São Paulo. Ao mesmo tempo, a inauguração do MASP na década de 1950, trouxe nova circulação de pessoas para a Avenida Paulista que passou a receber, além de visitantes a trabalho, outros que passaram a buscar a Avenida por motivos de lazer e cultura, em busca da arte em exposição no museu.

Neste período, temos que considerar três grandes marcos da hotelaria paulistana: o primeiro é o Hilton Ipiranga, inaugurado em 1971, o segundo é o Ceasar Park localizado na Rua Augusta e inaugurado em 1976 e o terceiro é o Maksoud Plaza, localizado na Alameda Campinas, inaugurado em 1979.

Deve-se analisar a inauguração desses três hotéis pela relação tempo e espaço. Em oito anos, o caminho de localização dos hotéis de luxo seguiu, ou melhor, "subiu", em direção ao espigão da Avenida Paulista. Ainda em 1971, o Hilton, primeiro hotel de rede internacional a funcionar no Brasil, o que mostra a importância nacional em nível mundial da cidade, abriu sua unidade na área central (Avenida Ipiranga esquina com Avenida São Luís e Rua da Consolação), região que unida aos hotéis da Rua Avanhandava, Vieira de Carvalho e Frei Caneca formavam o principal eixo hoteleiro de São Paulo. É aí também que funcionavam o Bourbon São Paulo, o Hotel Jaraguá e o Hotel Ca'd'oro, importantes referenciais de hospedagem de alto padrão para a cidade. Como era facilmente alcançado por importantes vias de circulação rápida, este hotel permaneceu como opção de hospedagem de luxo para os viajantes. Em 1976, o Ceasar Park abriu sua unidade de luxo já bem próxima a Avenida Paulista, lugar de concentração dos viajantes a negócios nesta época. Com a inauguração do Maksoud Plaza em 1979 com toda a infraestrutura que este hotel passou a oferecer, além da beleza arquitetônica do prédio, a Avenida Paulista tornou-se o lugar de concentração da hotelaria de alto padrão da metrópole. Ou seja, a região da Avenida Paulista deixou de ser concorrente com a área central para hospedagem de luxo, pois passou a ser a única opção.

A década de 1970 transformou o perfil da hotelaria paulistana, pois introduziu no mercado local, as redes internacionais (1). Ou seja, não foi apenas no plano do comércio ou da indústria que se intensificou com a entrada de empresas estrangeiras ao país. Nos serviços, caso da hotelaria, isso também aconteceu e de maneira rápida como nos outros setores, revelando o rápido processo de internacionalização que aconteceu na economia brasileira.

Os dez anos seguintes foram de grande retração na economia brasileira em relação ao crescimento do pib, ainda que alguns setores continuassem crescendo bastante e rapidamente, caso do comércio. O setor hoteleiro foi um dos mais atingidos pela recessão, que não cresceu em um número significativo de unidades como nos anos anteriores. Em São Paulo, somente o Crowne Plaza (1986) e o Sheraton Mofarrej (1986) abriram suas portas na Rua Frei Caneca e Alameda Santos respectivamente, todos sendo administrados por redes internacionais de grande porte. Todos os demais hotéis que se inauguraram no período, trabalhavam com serviços voltados para hóspedes que pagavam diárias mais baratas. Ou seja, a década de 1980 se caracterizou para a hotelaria como um período de falta de investimentos em novas unidades. No entanto, com a estabilização da economia nacional a partir de 1994 e a consequente abertura econômica efetivada com a nova configuração política nacional e internacional possibilitada por relações globalizadas no que diz respeito aos fluxos econômicos, o setor hoteleiro, aliado ao crescimento dos fluxos de viajantes advindos do aumento sustentado das viagens turísticas em ordem mundial, vai se apresentar como possibilidade econômica para investir em novas unidades, a partir da construção de novos hotéis.

Assim, o período entre o final da década de 1980 e início da década de 1990, além de ser pontuado por uma grande transformação política-fim do regime militar, abertura política, eleições diretas e democráticas, diversos planos econômicos que tentavam estabilizar a economia nacional-foi marcado por uma reviravolta nos padrões de reprodução do capitalismo em nível internacional. Ou seja, passou a ocorrer transferência dos investimentos advindos do capital industrial para o capital...

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